Opinião

Uma “banana” pelo voto ignorante

Já passou o 9 de Outubro. Já se votou na Madeira. Responsabilizar o povo madeirense poderá cair mal, mas na verdade quem vota? Não é o povo quem mais ordena? sim é! Sendo que cabe aos eleitos não usarem o cheque em branco a seu belo prazer, mas sim executando-o para o bem da população. Muitos de nós, assumidamente e conscientemente recorre ao voto ignorante. Ora bem, vejamos, quantos de nós lemos os manifestos eleitorais? Quantos de nós assistimos a sessões de esclarecimentos dos candidatos? Quantos de nós lemos o memorando da troika, sabendo assim se o que nos tiram está no memorando ou é da vontade de uma direita eleita? Temos, por vezes, uma consciência inconsciente; uma consciência oculta e opaca do passado e “mãos limpas” do presente e futuro. É deste voto ignorante que falo que em troca recebemos uma “banana”. Claro, que a resposta imediata de muitos, será o que disse Eça de Queiroz ” Políticos e fraldas devem ser trocados de tempos em tempos pelo mesmo motivo.” Bem, que ninguém estranhe se “nos vai ou nos fica” virarem expressões absolutamente aceites como representativas da cultura popular, transformada em ‘norma culta’. Tanto nos dá, que nos seja retirado 50% do subsídio de natal (não exigido pela troika) ou o próximo subsídio de férias (também não exigido pela troika). Estamos, digo eu, acomodados ao que nos tiram e moldados a uma perversa crise, que para a sua cura, dizem alguns, bem escolhidos nos tempos de antena, apenas, e único antibiótico é a austeridade. Estamos presos a uma política de direita, que nos quer fazer escolher a água que usamos ao abrir a torneira; a uma direita que aumenta o número lugares de crianças, jovens e idosos para os enlatar numa qualquer sala ou quarto, via decreto; a uma direita que aumenta a taxa do IVA na electricidade e gás natural (estava previsto para 2012, segundo o memorando, mas será antecipado já este Outubro). 12 Pontos percentuais a mais, representando um aumento de cerca de 400% na taxa do IVA deste bem essencial; a uma direita que num sector motor da nossa economia, a restauração, aumento do IVA; de uma direita que esquece que a recompensa faz parte do orgulho de cada um de nós, e retira prémios à última da hora. Estamos enlatados por uma preguiça revolucionária ou uma cómoda oculta demissão. A um governo de direita, junta-se um Presidente da República de direita, que ganhou as últimas eleições presidenciais com votos dos Portugueses, porventura boa parte dos mesmos da década de 85-95. O voto ignorante também passa, pela nossa amnésia colectiva, pela memória curta e camuflada. Quantos dos que deram a vitória a Cavaco Silva, não foram directa ou indirectamente prejudicados com as suas opções para o país enquanto primeiro-ministro. “É preciso voltar ao mar, é preciso voltar à terra” insiste, e bem, o Presidente da República (não se esqueça que dos 1727 km2 de ZEE, 953 km2 é mar dos Açores). Pergunto: Quem destruiu as pescas? Quem destruiu a agricultura? Não foi Cavaco Silva, primeiro-ministro durante 10 anos, que negociou o (des)alinhamento de uma estratégia? A má negociação não teve só consequências económicas, teve consequências sociais e culturais. A pesca e a agricultura são actividades que fazem parte da nossa identidade. Na década que Portugal viu entrar milhões no âmbito do Fundo Social Europeu que destinavam-se a melhorar o nosso atraso económico e ajudar nas carências que existiam na formação e especialização dos trabalhadores. O que fez? Castrou a nossa capacidade produtiva. Esse mesmo “castrador”, veio, no dia 5 de Outubro, falar ao país de “austeridade digna”. Invente-se frases, pena é que não se possa inventar, pelo menos até 2016, um outro Presidente da República.