Opinião

A Campanha de Mota Amaral

Quase um mês após a confirmação da sua recandidatura à Assembleia da República pelo círculo eleitoral dos Açores, o Dr. Mota Amaral, finalmente, entrou de forma notada na campanha eleitoral. O ilustre cabeça de lista do PSD-Açores às eleições de 5 de Junho estreou-se com o pé esquerdo na contenda. Escolheu um estilo que manifestamente não é o seu e um registo errado que penhora o seu indiscutível prestígio. O Dr. Mota Amaral promoveu uma conferência de imprensa para basicamente dizer duas coisas. Em primeiro lugar fazer um balanço do seu trabalho na actual legislatura, o que apenas enfatiza a abordagem retrospectiva que tem marcado excessivamente o PSD. Que compromissos assume o candidato do PSD-Açores na defesa da Lei de Finanças Regionais? O que pensa o Dr. Mota Amaral sobre a reforma do Estado Social que o seu partido defende? Continuamos sem saber.. Em segundo lugar, o Dr. Mota Amaral utilizou uma frase estudada para defender a tese que Cavaco devia ter demitido Sócrates e nomeado um Governo provisório de iniciativa presidencial. Esta ideia permite duas leituras muito comprometedoras para o PSD. Expõe uma fragilidade eleitoral, pois evidência que Cavaco não está à altura do momento que o País atravessa. O que torna óbvio não haver razões para votar no PSD no pressuposto de formar um bloco político estável ancorado em Belém. É preferível apostar num partido que suporte um governo sem o condicionalismo de ter apoiado um Presidente que falhou em todos os momentos decisivos dos últimos três meses. A tese do Dr. Mota Amaral salienta ainda um erro político comum a toda a direita portuguesa, pois diaboliza Sócrates ao ponto de insinuar que se ultrapassa a crise com a mera remoção do actual PM - uma ideia falsa e excessivamente simplista. O Dr. Mota Amaral perdeu uma oportunidade para causar uma primeira boa impressão sobre a sua campanha eleitoral. É pena mas não deixa de ser revelador.