Opinião

Carnaval

Estamos mesmo no auge da época carnavalesca. Os dias de amigos, amigas e compadres já lã vão, resta apenas o das comadres a que se seguirá a loucura dos bailes e bailinhos, das batalhas de limas e dos corsos carnavalescos. Aqui, que ninguém nos ouve, já fomos muito mais dados a carnavais, a bailes de garagem, a assaltos e a banhos gelados em dia de Entrudo. Hoje, ficámo-nos por um ou dois bailes – de preferência em ambiente familiar – e pelo saborear de umas malassades feitas à moda antiga, bem polvilhadas de açúcar e com o interior semi-cru! Carnaval é tempo de festa, alegria, confraternização e para alguns é época de assumir personagens do imaginário ou de se travestir do género ou condição que só o Entrudo permite. Infelizmente, os disfarces e a existência de travestis na sociedade não se limitam a esta época de folia efémera. Na sociedade em que vivemos, gente há que durante todo o ano se mascara de cordeiro, tendo por baixo pele de lobo. Basta estarmos minimamente atentos ao que passa à nossa volta para verificarmos a actuação dos paladinos da desgraça que, sob a capa de um piedoso moralismo, apenas aguardam a oportunidade de tomar conta do poder para imporem mais e maiores sacrifícios ao povo. Quantos e quantas por aí andam, mais velhos do que a “Salvé-Rainha”, embrenhados no poder desde tempos imemoriais e que agora querem fazer acreditar serem detentores de uma virgindade imaculada na política, portadora de uma mensagem redentora? Deixaram a Região quase na falência, sem transporte marítimo de passageiros, com uma transportadora aérea sem ambição, com tarifas exorbitantes, limitada às nove ilhas dos Açores. Agora criticam as contas da Região, tentam afundar o bem que constitui a ligação marítima regular que abrange todas as ilhas e exigem tarifas aéreas irreais, ao preço da chuva, sem limite ou restrição. Esquecem que o povo já não vai em carnavais, escolhe a música que quer dançar ao som de uma orquestra bem afinada, sob a batuta de quem tem sabido ao longo de catorze anos harmonizar os mais diferentes interpretes que dominam na perfeição os instrumentos que lhe são atribuídos. Podem travestir-se de Capuchinho Vermelho que o povo não deixará de neles ver o Lobo Mau! Podem exibir as vestes da Bela Adormecida, mas não conseguem esconder, sob a máscara da Fada Madrinha, o rosto da Bruxa Má! Carnaval é uma época de disfarces em que até os que andam todo o ano mascarados, não resistem vestir outras roupagens para – apenas que por um dia – imaginar-se outro ser, noutra época ou noutro lugar. Voltaremos em Quarta-feira de Cinzas!