Opinião

Não há céu de palavras que a cidade não cubra*

A Carta de Leipzig sobre Cidades Europeias Sustentáveis (Maio 2007) definiu as bases da nova política urbana europeia, focada em auxiliar as cidades a resolver os problemas de exclusão social, envelhecimento, mobilidade e alterações climáticas. A meta principal deverá ser o fortalecimento do centro da cidade, atraindo as pessoas, actividades e investimento para o seu centro, pondo fim ao fenómeno de dispersão das cidades que só tem aumentado o tráfego automóvel e o consumo energético. Logo a seguir vem a recuperação de edifícios residenciais e comerciais no centro das cidades, com uma maior diversidade de actividades, dotando-a de áreas de lazer e trabalho. Há pelo mundo fora muitos e bons exemplos a imitar. Freiburgo, por exemplo, na Alemanha é considerada como cidade 100% sustentável. A cidade criou um programa de incentivo à energia solar e impôs que as casas novas devem ter um design de alta eficiência. Em Helsínquia cerca de metade da população utiliza o autocarro como transporte, sendo 15% destes movidos a gás natural. Em Lyon foi implementada uma acção para obter mais áreas de mobilidade, os cidadãos contam com duas mil bicicletas disponíveis na cidade. Ora falar destes exemplos é conceber cidades que valorizam e potenciam os seus recursos, sejam eles o ambiente, as pessoas, os espaços públicos ou os bens materiais, entre outros, a favor dos que vivem nelas. É por isso que antes de nos preocuparmos com novas discussões, devemos acautelar a existência de condições para evitar grandes erros cujos resultados são previsíveis. A história do mundo ensina-nos (sem precisarmos de fazer grande esforço) que há numerosos fenómenos que constituem ameaças à nossa vida: aqueles em que nada podemos fazer, além de rezar e portanto não vale a pena integrá-los na previsão, excepto tentar aprender a rezar, aqueles para os quais podemos prever defesas para minorar os estragos, como acontece com os tremores de terra, furacões e outros e aqueles que são de origem humana como a poluição e o crescimento populacional. O sonho da cidade do futuro persiste em nós, hoje como sempre. Se para tanto for preciso percorrer longos caminhos, cá estamos, esperando, que do lado de quem gere, em primeira análise, no poder local, haja criatividade e confiança na mudança, mesmo que, para isso, seja preciso mudar a acção tradicional e procurar novas competências e relações organizativas. Escreveu José Carlos Ary dos Santos “(…) Não há céu de palavras que a cidade não cubra/ não há rua de sons que a palavra não corra/ à procura da sombra de uma luz que não há (…)”. É tempo de passar das palavras aos actos. Iluminem-se os espíritos. Acção. * Verso do poema “A cidade é um chão de palavras pisadas” de José Carlos Ary dos Santos.