Opinião

A Cultura do Empreendedorismo

Vivemos num tempo perplexo em que os modelos do passado não podem ser replicados no presente e em que o esforço para encontrar novas soluções é, muitas vezes, solitário. Vem esta reflexão a propósito do que é essencial e do que é acessório nestes dias que correm a nosso favor ou contra nós, conforme a nossa atitude perante a realidade que nos ultrapassa. E o que nos ultrapassa? O contexto internacional: a crise que entrou sem pedir licença, o desmoronamento de um sistema económico, social e ambiental insustentável. Perante este contexto, impõe-se o olhar local e a busca incessante de novas soluções para atenuar os efeitos do que não depende de nós. É o que tem feito o partido socialista nos diferentes órgãos de poder e nos movimentos cívicos. Pensar-se-ia, numa lógica racional, que todos (a dita sociedade civil) estivessem no mesmo rumo de acção, empenhados em atenuar as dificuldades individuais e sociais e no reforço do nosso tecido empresarial. Mas não. Num momento em que todos temos de gerir as mudanças decorrentes da globalização e do contágio da crise, ser criativos e coesos para atingir um desenvolvimento local reprodutivo, fundado na iniciativa e no empreendedorismo, num momento em que o governo disponibiliza novos produtos para apoiar essa iniciativa, como o Empreende Jovem (dirigido aos jovens), o Micro Crédito (cujo objectivo é reforçar os mais fragilizados economicamente), o SIDER (destinado ao empreendedorismo genérico), há quem descure completamente o seu papel social e ande pelas ruas a olhar para os buracos ou a pensar se o sintético fica melhor aqui ou além. Não somos todos obrigados a pensar da mesma maneira nem a dar prioridade aos mesmos objectivos. Mas temos de aceitar que há partidos que não conseguem entender o momento em que se situam e, consequentemente, ficam muito aquém da sua responsabilidade social e do que deles espera quem os elegeu para ocupar um honroso lugar na oposição. Em cada órgão de comunicação social, as notícias e os debates mostram que todos têm soluções para o mundo, todos sabem dissertar sobre as causas e prever as consequências, todos são iluminados... mas poucos dão luz à sua volta. Pelo contrário, passam a vida a ignorar o que pode mudar positivamente a nossa terra e comprazem-se na chamada de atenção para o que não é relevante para a construção de uma sociedade com cultura de empreendedorismo, de voluntariado e de formação. O dinamismo assenta em mudanças nos padrões de comportamento da sociedade ou de determinados grupos da sociedade, impulsionado por factores de natureza interna e externa. Nenhum ser está inteiramente comandado do exterior pela sociedade à qual ele pertence nem tão-pouco do interior pela sua própria cultura incorporada. Por outras palavras, no que decorre na nossa área de intervenção, muito há a fazer, a informar, a encaminhar, a mudar as antigas mentalidades que viam no funcionalismo público a única saída laboral. Hoje, as ideias de cada um podem ser aproveitadas e cada indivíduo pode criar o seu próprio emprego. Estão, os que se detêm no acessório, atentos para estimular essa mudança para o nosso bem comum? É caso para se dizer: anda-se a falar muito e a agir pouco!