Depois de meses de incerteza, chega finalmente a atualização dos valores-padrão para Creche, CATL e Centro de Convívio, com um aumento de 4,9% e efeitos retroativos a 1 de janeiro de 2025, conforme o Acordo Base assinado (só!) a 17 de novembro. Mas este acerto tardio não esconde o essencial. Corrige números, mas não corrige a instabilidade criada por meses de atrasos, nem o desgaste sofrido pelas instituições que ficaram sem meios para garantir o mais básico: salários a tempo e horas.
As IPSS e Misericórdias dos Açores são a base da solidariedade no arquipélago. Cuidam de crianças, protegem idosos e acompanham famílias vulneráveis. São o braço humano de um Estado que recorre a elas porque sabe que sozinho não chega a todos. Apesar disso, continuam dependentes de um sistema de financiamento que falha no que não pode falhar: previsibilidade e respeito.
Quando acordos não são revistos, quando as transferências atrasam, seja da República ou do Governo Regional, o impacto não se vê em relatórios. Sente-se na vida de sete mil trabalhadores que passam semanas sem saber se o salário entra, se haverá subsídio de Natal, se conseguem pagar a renda ou manter a despensa composta. São enfermeiros, auxiliares, cozinheiros, administrativos e educadores, pessoas com vidas e responsabilidades que sustentam as instituições que, por sua vez, sustentam o próprio Estado.
A situação agravou-se com a confirmação, na passada sexta-feira, de que trabalhadores de 13 IPSS não receberão o subsídio de Natal devido a transferências em falta, não apenas da República, mas também da Direção Regional da Educação, que não paga desde junho os valores destinados aos jardins de infância. Há instituições que só conseguirão cumprir obrigações se deixarem contas por liquidar ou fornecedores por pagar. Isto não é gestão. É sobrevivência imposta.
As IPSS não são entidades secundárias dos Açores, são pilares da coesão social. E quem trata pilares com descuido arrisca-se a ver toda a estrutura ruir. Respeito é pagar a tempo e honrar compromissos, deixando de empurrar instituições essenciais para uma permanente fragilidade.
Se os Açores querem honrar a tradição de solidariedade que tantas vezes evocam, têm de começar por proteger quem a concretiza todos os dias. A pergunta permanece: que respeito merecem as nossas IPSS? Muito mais do que têm recebido.