Na semana passada, voltaram a sair as “notas” do sistema educativo e, mais uma vez, os Açores ficaram na pior fila da turma. Enquanto o país discute médias e rankings como quem comenta resultados de futebol, por cá o resultado é o mesmo de quase sempre, ou seja, estamos no fundo da tabela.
Em português e em matemática, as provas finais do 9.º ano voltam a mostrar-nos com total clareza aquilo que muitos preferem continuar a empurrar para debaixo do tapete: continuamos na cauda do país e, em termos europeus, na cauda da cauda. Em português, a média regional é de 55%, abaixo dos 58% nacionais e em matemática, o retrato é ainda mais duro: 45,5% nos Açores, face a 51,8% a nível nacional. E assim continuamos em frente, apesar de sermos os últimos dos últimos, até porque na verdade a sensação que fica é de que já quase ninguém se espanta.
E é exatamente nestes momentos que o contraste dos resultados oficiais e o discurso político se torna mais evidente, socorrendo-se da habitual estratégia de transformar a frieza dos dados, num discurso mais ou menos aquecido.
Perante estes resultados, o Governo Regional dos Açores não resistiu a falar em “tendência consistente de convergência” com a média nacional e em “melhor resultado desde 2012” a matemática. De facto, não deixa de ser curioso, que perante a constatação de que os nossos alunos continuam com médias negativas a matemática e abaixo da média nacional a português, o enquadramento oficial seja quase de uma perigosa celebração.
Sejamos responsáveis… se é verdade que as médias melhoraram face a anos anteriores, também é verdade que continuam abaixo do limiar desejável e abaixo da média nacional, pelo que aquilo que releva para o caso, não é saber se estamos um pouco menos mal do que ontem, mas sim saber porque é que à data de hoje, continuamos tão atrás.
Talvez já esteja mais do que na altura de deixarmos esta narrativa de “vitória na derrota”, até porque ela não serve nem os alunos, nem as famílias, nem os professores, nem qualquer interveniente da comunidade escolar. A servir para alguma coisa, será apenas para a necessidade de maquilhar uma realidade que incomoda, que preocupa, que entristece, e que só se conseguirá modificar, quando for encarada por todos, como a principal batalha de uma sociedade saudável.
A educação é, talvez, o maior fator de mobilidade social e de desenvolvimento económico de uma região periférica como a nossa. Num arquipélago marcado pela insularidade, pela pobreza e pela desertificação, cada ponto percentual perdido nas aprendizagens representa oportunidades que se fecham: menos jovens a prosseguir estudos, menos qualificações, menos capacidade de atrair investimento e criar emprego qualificado.
Cabe, por isso, ao Governo Regional assumir com transparência a gravidade destes resultados. Reconhecer o problema não é um fatalismo, mas sim o primeiro passo para a mudança. Isso implica olhar para as condições reais das escolas, para os recursos disponíveis, para a estabilidade das equipas docentes, para o apoio às famílias, para o combate às desigualdades entre ilhas e até mesmo dentro das próprias ilhas.
Os açorianos não precisam de comunicados otimistas, mas sim de um compromisso político claro de colocar a educação no centro da agenda, com metas exigentes, investimento consistente e avaliação séria das políticas implementadas. Enquanto a prioridade for controlar a narrativa em vez de transformar a realidade, continuaremos a aplaudir pequenos avanços, enquanto nos mantemos no fim das tabelas nacionais e europeias, permitindo que o futuro de uma geração inteira fique, literalmente, abaixo da média.