Opinião

As aparências iludem

Diz o ditado popular que as aparências iludem. No caso da governação dos Açores, isso aplica-se claramente. Vivemos hoje num tempo em que o Governo parece governar mais para a imagem do que para os resultados. Falta-lhe rumo, visão estratégica e, sobretudo, capacidade de planeamento. O que sobra é propaganda, anúncios vistosos e uma narrativa construída à pressa para disfarçar a ausência de soluções.

Todos os dias chegam notícias de instabilidade e falta de orientação política. É na Cultura, onde o lugar de Diretor Regional está vago e já foi ocupado quatro vezes em cinco anos, um setor que devia ser motor da identidade e coesão cultural, mas que se tornou num retrato do improviso. É na Educação, essencial para quebrar ciclos de pobreza, onde persistem carências e desigualdades: faltam professores e assistentes operacionais, chove dentro de algumas escolas e não há verba para material didático.

Na Habitação, inscrevem milhões em planos e orçamentos, mas a crise habitacional agrava-se. As rendas disparam, os preços das casas sobem e os jovens são empurrados para fora das suas ilhas. A propaganda substitui a política e a realidade não muda.

Enquanto isso, o custo de vida não para de aumentar: a conta da luz pesa mais, o preço do leite, do pão e dos combustíveis sobe, e as famílias veem o seu poder de compra diminuir. Em vez de respostas eficazes, o Governo oferece discursos otimistas e promessas que não chegam à carteira de quem trabalha.

No setor Social e na Saúde, o cenário é semelhante. As IPSS e Misericórdias enfrentam sérias dificuldades, com mais de sete milhões de euros em falta de transferências da República, e o Governo Regional responde com silêncio. Na Saúde, mais de um ano após o incêndio no HDES, ainda não se sabe quanto custará a recuperação.

Casos como o do transporte de flores da ilha Terceira para os Países Baixos ilustram bem a falta de coordenação e de compromisso do Governo. Os empresários, que enfrentam inúmeras dificuldades, não encontram na Administração Regional um parceiro capaz de compreender os seus desafios nem de lhes dar soluções concretas.

Não há memória de tanta ausência de compromisso.

As aparências podem iludir por algum tempo, mas a realidade, essa, acaba sempre por pesar mais.