Opinião

Continuidade territorial em risco com incerteza no futuro da Azores Airlines

As recentes declarações do Secretário Regional das Finanças, Duarte Freitas, sobre o futuro da Azores Airlines, levantam uma nuvem de incerteza que não pode ser ignorada. Ao admitir que a companhia poderá encerrar em 2026, caso a privatização falhe, o Governo Regional coloca em causa não apenas a confiança dos açorianos, mas também a estabilidade económica e social de várias ilhas.

No caso concreto do Faial, o impacto seria devastador. A Azores Airlines é a única a assegurar a ligação direta com Lisboa, ligação essa que é vital para a mobilidade dos residentes, para a garantia da continuidade territorial e para a dinamização do turismo. Um eventual encerramento representaria um golpe profundo para a economia local, deixando empresários, famílias e visitantes sem uma infraestrutura essencial.

Convém lembrar que a companhia aérea açoriana tem uma longa história de serviço público. Criada em 1941, iniciou operações em 1947, sendo desde então a principal ligação entre as ilhas e, mais tarde, entre os Açores, o continente português, a Europa e a América do Norte. A SATA – hoje através da SATA Air Açores e da Azores Airlines – foi determinante para encurtar distâncias, unir famílias, apoiar estudantes e trabalhadores emigrados, e abrir as portas ao turismo e às exportações regionais.

Ao longo das décadas, a companhia assumiu um papel insubstituível na construção da identidade e da coesão do arquipélago. Mais do que uma transportadora, tornou-se um símbolo da superação do isolamento, garantindo que todas as ilhas pudessem manter relações sociais, económicas e culturais com o resto do país e do mundo.

A Azores Airlines não é apenas uma companhia aérea, é um instrumento de ligação fundamental entre as ilhas e o continente. O seu papel vai além do transporte de passageiros. É através dela que muitas famílias conseguem manter contacto regular, que estudantes podem regressar a casa, que profissionais circulam para além das fronteiras insulares e que produtos regionais chegam mais facilmente aos mercados externos.

Além disso, a companhia é um pilar de segurança e previsibilidade para a região.

Ao longo das últimas décadas, a Azores Airlines tem assegurado uma presença constante em destinos estratégicos, garantindo que todas as ilhas tenham acesso ao exterior e uma ligação sólida e confiável com o mundo.

A discussão em torno da privatização não pode ser conduzida apenas em função de números ou de interesses restritos a determinadas ilhas. O processo deve ter como prioridade o interesse público de todo o arquipélago, respeitando o princípio da coesão regional. É fundamental assegurar que a empresa continue a oferecer pelo menos a frequência mínima de voos atualmente existente entre a Horta e Lisboa, mas também que se pense no futuro, com o aumento de ligações durante o verão e a criação de uma rota regular entre a Horta e o Porto.

Os Açores precisam de uma estratégia clara, responsável e transparente para a aviação. A continuidade territorial não é um luxo, é um direito! E sem ela, não há desenvolvimento económico equilibrado, nem confiança dos cidadãos naquilo que deveria ser a sua principal ponte com o exterior.