Opinião

Pé-coxinho

Foi apenas há pouco mais de 4 meses que o líder do PS/Açores afirmava que ao Governo Regional estava a sobrar tempo e a faltar dinheiro. Não tardaram as vozes, em uníssono, dos partidos da coligação a acusarem, pela enésima vez, de alarmismo o líder do Partido Socialista. Se para muitos a afirmação proferida foi entendida, para muitos não só foi entendida como também sentida.

Aquilo a que alguns chamam de obsessão com as contas públicas não é mais do que a legítima preocupação do que tal significa do ponto de vista prático. É fácil compreender que a degradação das contas públicas impacta diretamente na capacidade de executar do governo. E, como resultado temos o desnorte político a que assistimos nos últimos quase 3 anos de governação. Com políticas contraproducentes, implementadas em resposta às exigências dos partidos que suportam esta solução governativa, cuja coerência nunca viu a luz do dia.

Em resultado, a degradação das contas públicas faz-se sentir de forma evidente. Atrasos nos pagamentos a fornecedores, atrasos na avaliação de candidaturas, atrasos no pagamento dos apoios, medidas aprovadas na Assembleia que ficam na gaveta por implementar. Sintomas claros da incapacidade deste governo.

Vejamos o caso do Desporto. Se desde o início da legislatura o desporto tem andado em modo combalido, hoje é evidente o desnorte. A falta de ideias novas, o descontentamento generalizado em todos os agentes desportivos com as políticas e com toda a estrutura governativa com responsabilidades em matéria de desporto, o crescente incumprimento dos compromissos assumidos com as entidades do movimento associativo desportivo são sintomas claros do estado em que se encontra o desporto regional.

Esta situação atinge, em primeira instância, todos os atletas: crianças, jovens e adultos. Afeta as camadas de formação como o desporto federado. Se hoje temos clubes que são referência na formação, assim como atletas galardoados ao mais alto nível, só foi possível com uma aposta de largos anos na consolidação da prática desportiva nos Açores. E em apenas 3 anos coloca-se em risco o trabalho conseguido com o suor de muitos. E aqui não podemos esquecer os dirigentes e treinadores que são o alicerce destes clubes que merecem o nosso reconhecimento, mas, em primeiro lugar, o nosso respeito. Neste momento, dizem-nos ouvir promessas, “agora é que vai ser”, mas na verdade começaram a época desportiva 2023/2024 com os apoios da palavra ‘Açores’ muito atrasados, condicionando a sua atividade e, em alguns casos, com apoios relativos à época de 2022/2023 ainda por pagar. São mesmo os responsáveis associativos a denunciar tais atrasos, classificando-os como “atrasos recorde”! Um recorde que poderá colocar em causa os recordes que almejamos para o desporto regional.

E assim vai o Desporto nos Açores, a pé-coxinho! O Desporto e não só!

 

(Crónica escrita para a rádio)