Faz agora um ano que a minha crónica foi relacionada com o resultado da dívida pública nos Açores.

Na altura, os dados que foram tornados públicos evidenciaram um marco negativo e histórico para as nossas finanças públicas.

Depois disso, esperava-se responsabilidade e muita cautela na gestão dos dinheiros públicos. Estávamos a atravessar uma situação muito delicada com grandes impactos na nossa Região e o Governo dos Açores precisava de estar preparado para intervir sempre e onde fosse necessário.

Mas, não foi isso que aconteceu. Contrariamente ao que era esperado, e sobretudo exigido, a verdade é que o Governo arrecadou mais dinheiro com a crise, há escassez de medidas para combatê-la, a dívida da região volta a bater mais um recorde e o nosso défice quase que atinge os oitocentos milhões de euros.

Entretanto alterou-se o responsável pela pasta das finanças, anunciou-se o início de uma política de endividamento zero e quais foram os resultados? Os resultados foram ainda piores.

Os números que agora são tornados públicos e referentes ao ano de 2022 só ajudam a comprovar todos os alertas que se tem vindo a fazer: o governo está sem capacidade financeira para cumprir com as suas obrigações e o endividamento zero não foi uma opção, foi antes uma inevitabilidade e sobretudo uma consequência da forma como estão a ser geridas as nossas finanças públicas.

Caros ouvintes, já o disse aqui uma vez: eu não acho que o endividamento por si só seja uma coisa má, aquilo que eu acho é que o endividamento público deve ter resultados práticos e diretos na economia através de investimentos. E não é isso que temos assistido nos últimos dois anos, muito pelo contrário. Apesar do elevado endividamento, praticamente não há investimento público e neste momento pode estar em causa investimentos com financiamento europeu porque o Governo dos Açores pode não ter a capacidade de entrar com a sua cota-parte.

Isto sim, é prejudicar as gerações futuras, e da pior maneira.

(Crónica escrita para Rádio)