Opinião

Avessos ao escrutínio

As pessoas possuem diferentes modos de lidar com as críticas.

Há aquelas que reagem de modo positivo, assimilando-as e refletindo sobre elas, há aquelas que recusam a crítica, negando e recusando a sua pertinência, e há aquelas que não aceitam a crítica de modo algum e se sentem agredidas.

É assim na vida pessoal de cada um, é assim nas funções e no trabalho que se exerce no dia a dia.

Contudo, quando se exercem cargos governativos, sujeitos ao escrutínio, nomeadamente o popular, os diferentes modos de lidar com as críticas possuem contornos que deveriam inferir uma maior e melhor ponderação na reação a ter perante as mesmas.

Não basta apregoar a humildade democrática.

Há que colocá-la em prática e evidenciá-la.

Ninguém está a salvo de atravessar um pior momento pessoal ou profissional, agravado por pressões, internas ou externas, em resultado de determinadas ações.

Outra coisa é quando se refutam sistematicamente todas e quaisquer críticas, por toda e qualquer via, tornando-as, invariavelmente, todas negativas e convertendo o seu combate no cerne da existência de cada um.

A liberdade de expressão é uma conquista de todos, para ser usufruída por todos.

Todo e qualquer cidadão pode e deve manifestar a sua voz, independentemente se concorda, se diverge em alguns aspetos ou se discorda de outros, a respeito de qualquer tema ou área de atuação de cada um.

Essa deve ser a premissa de qualquer governo democrático da atualidade.

Atender à voz de cidadãos, organizações, associações, órgãos de comunicação social, entre outros.

Esta é a marca da existência da própria democracia e que afasta o panorama de censura próprio dos governos autoritários.

Na Região, por mais que uma vez e em diferentes situações e com diferentes "atores", parece existir e persistir um clima censurável, em nada abonatório para o crescimento coletivo e em sociedade democrática.

Artigos de opinião, post's nas redes sociais, comunicados, tomadas de posição, intervenções junto dos órgãos de comunicação social, intervenções dos próprios órgãos de comunicação social, tudo parece ser mal recebido e repelido, por vezes "raivosamente", junto de e por quem tem a responsabilidade de nos governar.

Terá dito William Shakespeare que "a raiva é um veneno que bebemos esperando que outros morram".

Que 2023 permita que assim não seja.