Opinião

Outra vez o trânsito… agora com cultura à mistura!

Aqui estou eu novamente a escrever sobre o trânsito no centro histórico de Ponta Delgada. A responsabilidade por esta nova incursão é, como não podia deixar de ser, do Senhor Presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada. Aproveitando a excelente notícia da passagem de Ponta Delgada à fase final do processo para escolha da Capital Europeia da Cultura em 2027, o mui ilustre edil ponta-delgadense viu aí uma excelente oportunidade para fazer uma ligação direta à decisão unilateralmente tomada de fechar, de um dia para o outro, o referido centro histórico. Vi esta “colagem” estampada em vários órgãos de comunicação social. Consultada a página da autarquia, deparei-me com uma nota, datada de 24 de março último, intitulada “Fim do trânsito no centro histórico contribuiu para a decisão do júri passar Ponta Delgada à final da Capital Europeia da Cultura”. Estava dado o mote para uma espécie de realidade paralela. Segundo a referida comunicação, “O Presidente Pedro Nascimento Cabral, afirmou, na reunião ordinária da Câmara […], que o facto da autarquia ter encerrado a circulação automóvel no centro histórico da cidade «teve notório impacto na decisão do júri internacional de passarmos à final da candidatura a Capital Europeia da Cultura». Seguidamente, é referido que “No âmbito da intervenção que efetuou perante o júri internacional da candidatura, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, Pedro Nascimento Cabral anunciou a medida em causa como sendo uma importante «decisão cultural que permite devolver Ponta Delgada às pessoas, para que estas possam desfrutar de um espaço público de qualidade, onde se insere o comércio local.»
Para não ser demasiado exaustivo, aduz a nota que “O Presidente […] referiu ainda que a “decisão de retirar o trânsito do centro histórico da cidade requalifica Ponta Delgada como uma cidade mais amiga do ambiente.” Voltemos ao mundo real. Este novo argumento não rima e nem sequer encosta na precipitada (e acalorada) decisão relativa às alterações impostas à circulação automóvel na baixa da cidade. Aconselho a perderem um tempinho no meio das regras, instruções, procedimentos, critérios de elegibilidade e de exclusão e métodos de seleção aplicáveis às candidaturas e, principalmente, vejam bem as diretrizes da Comissão para a avaliação das cidades. E depois digam de vossa justiça… Para poupar trabalho, informo que salta sempre à vista o peso do seguinte critério central: as cidades devem preparar um programa cultural com uma forte dimensão europeia. Daí estar em causa a escolha de duas cidades para ostentarem o título de capitais europeias da cultura em 2027 e não… da capital sem carros! Refira-se, a terminar, que a candidatura de Ponta Delgada foi apresentada oficialmente a 30 de maio de 2021. Azores 2027 foi o nome escolhido para a candidatura. O vídeo, extraordinariamente bem elaborado, tinha imagens e testemunhos (embaixadores) de todas as ilhas. Afinal, parece que foi a decisão que era temporária e passou a definitiva, com base em estudos que obrigaram ao sacrifício da palavra dada, que teve “notório impacto no júri”… Será que fechando para sempre a Avenida ainda ganhamos?! É melhor não dar ideias….