Opinião

Nomeações

Anda muita gente irritada com as nomeações do governo da coligação. O tema não passa despercebido nas redes sociais, nas pequenas tertúlias de café, nas conversas de corredor nos departamentos públicos, ou nos dois dedos de conversa quando se cumprimenta os amigos ou se visita os familiares. O semanário nacional Expresso não fez o caso por menos, pois chamou o tema a nota de manchete.
As primeiras nomeações “a dar que falar” foram as de diretores regionais ou equiparados do governo anterior para lugares de técnicos especialistas, qual novo cargo-função, até agora muito pouco visto na administração regional. E, como não podia deixar de ser, o tema divide opiniões, pois há os que acham que estas surgem um pouco “marteladas” nas atuais estruturas do novo governo e que visam apenas “abafar” vozes potencialmente discordantes; outros há, que entendem que elas enformam alguma deslealdade pessoal e política para com os que no governo anterior neles confiaram; e outros vão mesmo mais longe no seu ajuizamento, quando dizem que em tudo isto há oportunismo pessoal e profissional, sendo assim, enquanto memória houver, os agora especialistas devem merecer o desconfortante epíteto de “vira-casacas”.
Mas há aqueles que, como eu, entendem que, os agora (re)nomeados fizeram bem em aceitar os novos cargos, e, claro, se as funções a desempenhar considerarem exclusivamente as suas formações académicas, capacidades técnicas e honestidade na gestão das coisas públicas, pois isso só indica que o governo anterior tinha gente de categoria nas suas direções regionais e afins, e, neste aspeto sejamos claros: a Região não pode dispensar os seus melhores, pois, são pessoas que deram muito de si à nossa terra, muitas vezes com sacrifícios pessoais e familiares, e, convenhamos, estas nomeações também evitaram que os mesmos fossem à chibata do pelourinho da praça pública, qual coliseu para alguns, para quem as despromoções dos lugares de nomeação pública são motivo de gáudio e maledicência.
Também entendo que estas nomeações revestem utilidade pública, nomeadamente porque possibilitam a passagem de testemunho entre governos, obviando-se assim demoras e custos acrescidos, pois, certamente, muitos ainda se lembram do que aconteceu em 1996, aquando da saída do PSD do governo da Região, que colocou o primeiro governo da responsabilidade do PS, literalmente aos papéis, tal foi a bandalheira administrativa e gestionária que encontraram nos departamentos da administração regional.
Chegados aqui, convém esclarecer, que os cargos de diretores regionais ou equiparados que vemos nas orgânicas dos governos regionais, não são cargos políticos, ou seja, eles não são membros do governo, desempenham sim, cargos eminentemente técnicos, com reprodução-equiparação orgânica, nomeadamente funcional e salarial, retiradas das direções gerais nacionais. Embora, e desde o primeiro governo regional da nossa Autonomia, os mesmos nunca deixaram de ser vistos como simbióticos de confiança pessoal, técnica e política, cujo último matiz, foi fortemente assumido por muitos, desiderato que levou a que em geral fossem vistos pelo comum dos cidadãos como sendo cargos políticos.
Assim, ficará à consciência e responsabilidade de cada um, a qualidade e quantidade de trabalho que vão desenvolver ao abrigo da nova nomeação, sendo certo que, àqueles que são militantes e com cargos nas estruturas do PS, impõe-se que façam uma reflexão diferente dos que desempenharam aquelas funções sem vínculo partidário.
Quanto às outras nomeações que são afloradas pelo jornal Expresso, certamente que entraram como notas negativas na avaliação que muitos açorianos já fazem do governo da coligação, indicando que o novo PSD não perdeu velhos tiques, mas, pelos vistos esqueceu-se que agora o escrutínio público das nomeações é muito mais exigente. Contudo, não deve ser por causa disso, que vão todos deixar de ler os jornais que um dia publicaram notícias do mesmo teor, até porque, para quem passou a vida a “malhar” nos dirigentes e governos do PS, só pode ver estas como as primeiras tempestades dos muitos ventos que semearam.