Opinião

Esqueçamos (?!) o que fizeste e disseste nos verões passados…

Quando vi, em primeiro lugar, a notícia que o conselho regional do PSD-Açores “deliberou por unanimidade e aclamação mandatar José Manuel Bolieiro para negociar com o CDS-PP e o PPM” e, posteriormente, uma conferência de imprensa com um elenco que não chega, ocorreu-me, sem saber bem porquê, o título de um famoso filme de terror para a minha geração: “Sei o que fizeste no verão passado”. Os conselheiros do PSD-Açores, por sinal, aparentam querer dar continuidade à sequela, mas com um enredo e epílogo diferente. Vai daí, mesmo sabendo do que se passou em múltiplos verões passados, decidiram, ao compasso de palmas, fazer de conta que o CDS-PP e o PPM não fizeram ou disseram aquilo que todos – incluindo os ditos conselheiros – sabemos. Começo pelo CDS-PP, o partido que, pela sua postura e ação política em prol do desenvolvimento dos Açores que, obrigatoriamente, tinha que passar por um permanente diálogo e concertação com o Governo dos Açores, era apelidado pelo PSD de “apêndice” do PS; “muleta” do Governo; “traidores” do seu campo ideológico e outros qualificativos e rótulos que, por decoro, me vou abster de referenciar. Agora, esse mesmo CDS-PP, com o mesmo e outrora líder “bairrista”, passou a parceiro natural e muito confiável para efeitos da necessária estabilidade de um eventual governo de direita. E, então, o que dizia ainda há pouco tempo o CDS-PP do PSD-A? No dia 6 de outubro, Artur Lima disse (e cito): “o PSD não vai ganhar as eleições”; “o PSD não apresenta listas credíveis aos olhos do eleitorado”; “o PSD não teve propostas que o fizesse uma verdadeira oposição”; “o PSD foi uma oposição birrenta, que não propôs alternativas”. O dia 6 de outubro referido é do corrente ano, pelo que foi há menos de 1 mês. Há mudanças radicais de opinião que a razão desconhece… Ou a opinião mantém-se e o que mudou terá sido outra coisa? Passo agora ao PPM. Para além de contundentes críticas e apreciações muito negativas ao desempenho do PSD feitas, repetidamente, em sede de Assembleia Legislativa Regional, impõe-se recuperar dois textos de opinião de Paulo Estevão publicados neste mesmo jornal. O primeiro desses artigos, publicado no dia 1 de fevereiro de 2020 e com o título “Bolieiro não é alternativa”, começava com a seguinte apresentação de Bolieiro: “Trata-se de um político profissional, que exerce funções políticas remuneradas desde 1989”; prosseguia dizendo que “Tudo nele recorda um passado que já teve o seu tempo e que ninguém deseja re-editar neste século” e terminava sentenciando que “Bolieiro representa, pura e simplesmente, a antítese do partido reformista e dinâmico que o PSD foi em muitos momentos cruciais na nossa História democrática.” O outro artigo, publicado no dia 22 de agosto de 2020 e intitulado “Bolieiro, o Incinerador”, começava com a distinção de Bolieiro como o campeão da hipocrisia; continuava com a qualificação de Bolieiro como “coronel da tropa incineradora” e “o máximo responsável pelo enorme fracasso da reciclagem em São Miguel”; e terminava referindo que “a desfaçatez de políticos como José Manuel Bolieiro é insultante e não pode ser tolerada.” E os textos não ficam por aqui… sendo que em todos a apreciação feita é sempre igual. Ou era… Uma coisa é certa, o “remake do filme” que inspira o título desta crónica não terá nenhuma morte acidental na origem, mas garantidamente tem vários assassinatos de caráter no decurso do enredo e muita falta de vergonha…