Opinião

Mortalidade e mortandade

Falemos de mortalidade sem a mortandade do costume. Sob o título “Nos Açores morre-se mais cedo do que no resto do país”, um dos nossos jornais matutinos fez com a técnica do copy-paste uma “super” análise estatística de que até eu, que muito amiúde analiso estatísticas, fiquei confuso. A questão não está em aceitarmos ou não uma qualquer estatística, mas sim entendê-la e valorizá-la no seu contexto; e melhor ainda tirar as conclusões adequadas a uma ação concertada se se justificarem correções que infiram melhorias nos períodos seguintes. Se a ideia for o alarmismo ou o derrotismo, bastava o título e “fujam” dos Açores porque ficando cá existe na análise do cronista forte probabilidade de morrerem mais cedo. No ano passado, era o aumento da mortalidade infantil, quando por exemplo num ano faleceu nos Açores mais uma criança do que no ano anterior e já a percentagem em vez da permilagem que era exibida como troféu da vitória sobre a desgraça abatida sobre nós. Felizmente que no ano seguinte ficamos em primeiro lugar com menos baixas, morreram menos dois do que os quase cinco óbitos estatisticamente prováveis para a nossa população pediátrica. Que bom digo eu, pudera que nunca morresse nenhuma criança, porque mesmo estatisticamente provável, nunca queremos constatá-lo. A estatística é uma ciência que tenta explicar ocorrências e probabilidades de ocorrências de eventos utilizando teorias probabilísticas; em Medicina a casuística é o registo, quantificação e estudo dos casos de determinada doença. Há quem ache que em estatística tudo se pode comparar logo que a um dado se associe um número e a outro número se associe o mesmo dado, em casuística não Em estatística podemos fazer um exercício científico de ciência nenhuma, em casuística médica de causas de óbito, morre-se por causas identificadas ou não e a estas sim podemos inferir probabilidades estatísticas de ocorrências futuras. Por tudo isso quer a estatística, quer a casuística são muito importantes para entendermos fenómenos e rumos nas áreas em análise. Não vamos falar hoje de números, muito menos dos referidos no artigo de que vos falei, porque, no meu entender, daquele modo não fazem sentido nem nos leva a parte nenhuma. Falaremos disso numa próxima oportunidade até porque o que interessa nesta fase é tal como na mortalidade infantil observada, entender e intervir nos fatores que em saúde pública possam interferir numa redução efetiva desta incidência sem estar em causa qualquer lugar no ranking nacional, até porque estatisticamente e casuisticamente já estamos há muito tempo ao nível da mediana europeia. Importa apostar na educação para a saúde e na participação dos cidadãos na adesão a hábitos de vida saudável, monitorizando-se as políticas de saúde implementadas em plano regional e nacional de saúde e repudiar esta ideia de mortandade como se não estivéssemos sempre a lutar pela melhoria da saúde das nossas populações. Se uma desgraça nunca vem só, ao menos que o seja só de boca, neste caso de texto.