Opinião

Peso morto

I. Misturar as consequências de uma conjuntura externa recente e adversa com os progressos que a Autonomia nos permitiu alcançar nas últimas quatro décadas é um abuso e um desrespeito para com quem lutou para que os Açorianos se pudessem governar a si próprios. No comparativo de longo prazo, não há um indicador socioeconómico e de bem-estar que possa comprovar a tese, interesseira e irresponsável, propalada por aqueles que lutam pela sobrevivência política à custa de um ou dois por cento no score eleitoral, de que a Autonomia falhou. Eles – os das nuvens negras –consideram eventuais danos ao autogoverno da Região como colaterais a um ataque ao partido que governa. E acham que isso não tem grande importância, se considerarmos que no outro prato da balança, tal como eles a equilibram, está a sobrevivência política de um líder ou a diferença percentual entre uma derrota inaceitável e uma derrota legítima. As crises socioeconómicas são cíclicas e, infelizmente, abrangem todo o espaço europeu, com intensidades e consequências diferentes. Mas a Autonomia, enquanto representação política próxima e conhecedora da realidade local, é estrutural e configura a melhor resposta que Portugal conseguiu dar aos anseios e às legítimas aspirações das suas regiões insulares. Falar como falam PSD e CDS da Autonomia é uma profunda desconsideração pelos Açores e pelos Açorianos. Do que eles deviam falar é da governação do PS nos últimos quatro anos; do que eles falam é do esforço de gerações de Açorianos que têm lutado e continuam a lutar pelo direito a gerirem o seu próprio futuro. II. Não é o sistema autonómico que está em julgamento nas eleições Regionais do próximo Outono. Nem sequer é apenas o partido que governa e o resultado da sua governação. É também a capacidade e o grau de responsabilidade que cada uma das alternativas políticas demonstra no exercício das suas funções no quadro da Autonomia regional. Ser oposição – e, particularmente, ser o maior partido da oposição – implica também ser avaliado no cumprimento das competências de fiscalização e propositura inerentes ao estatuto de alternativa de poder. Para dar consistência à hipótese de se apresentar como pretendente ao poder, o PSD Açores tem de se sujeitar, em paralelo, ao juízo de capacidade feito pelos Açorianos e essa análise passa, em larga medida, pelo contributo que foi capaz (ou não) de dar, enquanto oposição, para o progresso da Região e para o fortalecimento do nosso sistema de autogoverno. E é aqui que as coisas se complicam. É que a agenda de negrume e acrimónia que o deputado Duarte Freitas tem cumprido ao longo do presente mandato - ruidosa no empolamento das fases mais críticas, quase muda nas fases de crescimento económico; cheia de esperança no insucesso das lutas que o Governo Regional tem travado, quase inconsolável de cada vez que os indicadores revelam melhorias – não o promove a alternativa que possa fazer crescer a eficácia da Autonomia, antes o relega para a condição de peso morto do esforço coletivo que todos na Região têm feito para vencer as adversidades. III. Há uma diferença substancial entre estar na oposição e ser alternativa – e não, a diferença não está na utilização martelada e repetida do bordão “quando eu for Presidente…”, como se isso equivalesse a um clique no cérebro dos eleitores. Reconhecer os méritos inegáveis da Autonomia, quer governemos, quer não sejamos poder, é o princípio basilar dessa distinção. Mas, cá está, não é para todos.