Opinião

Falemos de alternativa política nos Açores

Na passada semana os Deputados do Partido Socialista apresentaram no Parlamento Regional um voto de congratulação à proposta de lei do Orçamento de Estado para 2016 que está em discussão na Assembleia da República, tendo o PSD e o CDS/PP votado contra. Aparentemente nada de novo nem incoerente nestes sentidos de voto, pois, como sabemos, as direções regionais destes dois partidos de direita tem seguido à risca as orientações de Passos e Portas. Não fora o facto de este voto salientar, praticamente na sua totalidade, um conjunto de medidas presentes no documento que vêm resolver e regulamentar divergências históricas entre as autonomias e o Estado, e não estranhávamos a atitude ostensivamente agressiva e belicosa do maior partido da oposição. Neste debate em particular não interessava aos maiores partidos da oposição reconhecer que finalmente vai acabar - após anos de diferendo! - o pagamento pela Região dos tratamentos aos doentes (Açorianos) que tinham necessidade de cuidados hospitalares nas unidades saúde do continente; que passa a ser assumida, pela primeira vez, a dívida da República referente à comparticipação suportada pela Região aos utentes da ADSE nacional no Serviço Regional de Saúde; ou que são eliminadas e revogadas as normas que interferiam nas competências da Região Autónoma, nomeadamente o controlo do recrutamento de trabalhadores pela administração pública regional e o vínculo do emprego público a termo resolutivo. Não, nenhuma destas conquistas interessava – afinal é, certamente, coisa pouca, o Estado (finalmente) reconhecer tratar de igual forma os doentes Açorianos e os doentes continentais! – para o PSD e o CDS/PP, importava sim, proteger o Governo de Passos-Portas e falar de Sócrates. Sim, porque quando a oposição perde os argumentos fala infantilmente de Sócrates, como se isso os pudesse redimir da sua incapacidade para se afirmar como alternativa política. Para os mais desatentos, a atitude dos maiores partidos da oposição no Parlamento Regional tem sido permanentemente assim… - no mínimo! - eternamente contra tudo, infindavelmente (demasiado) agressiva no debate e quase ininterruptamente insultuosa contra o Governo, mesmo quando têm a mesma opinião sobre o assunto. Não é normal que quando, posteriormente, discutimos durante três intermináveis horas, duas propostas de diplomas que irão regulamentar a relação entre os Serviços Públicos de Saúde Regionais e Nacionais, os dois maiores partidos da oposição tenham atacado “a torto e a direito” o Governo dos Açores, falando de Sócrates – outra vez! – e, no final votarem unanimemente a favor das propostas. Não percebem - por cegueira - que reconhecemos defeitos e erros nos governos socialistas no passado, nomeadamente, na não resolução do problema do acesso em igualdade de circunstâncias dos doentes dos Açores ao SNS, como também esperamos que façam o mesmo em relação aos seus Governos e reconheçam os méritos dos que finalmente resolvem os problemas. Mas as conquistas autonómicas aqui referidas não foram do PS ou do Governo dos Açores, foram sim de todas e todos os Açorianos, sendo por isso merecedoras de, pelo menos, um reconhecimento público ou de alguma satisfação. Infelizmente isso não aconteceu, nem prevejo que possa acontecer no futuro, o que é muito pouco para quem se quer afirmar como alternativa política nos Açores.