Opinião

O Artigo 37

Não estamos em Abril. O frio, não as flores, bate à porta e agita as ramagens das árvores que suportam as últimas folhas que ainda se aguentam. Nada faria lembrar Abril, de facto. Há, no entanto, algo que sempre me faz a ele remontar, simbolicamente. Os artigos de opinião que neste jornal publico têm por denominador comum, o “Artigo 37”. Quando decidi “batizá-los”, não me ocorreu mais nada, se não um dos artigos que mais prezo na nossa Constituição. O artigo que consagra a Liberdade de Expressão. Aprecio-a porque nasci com ela mas ensinaram-me que nem sempre assim foi. Muitos anos viveram os meus pais e os meus avós calados porque era censurável dizer o que se pensava, se o que se dissesse fosse contra o que alguns pensavam. “Dava cadeia”, segundo me contaram. Por isso, aprendi a ser agradecida por nunca ter que viver amordaçada. Por fazer uso dessa liberdade que “alguém” sábio (e provavelmente muito “escaldado”) teve a coerência de colocar na Constituição. Sendo assim, o que digo, hoje, é porque quero e porque posso. Porque faço uso dessa Liberdade, aceitando e respeitando igualmente a de todos os outros de se pronunciarem sobre o que acharem que devem. Liberdade de dizer que se concorda, que se discorda, que se acha que está bem ou que está mal. Longe vai o tempo de “assar” num pelourinho quem expressa o que lhe vai na alma. E certamente não irá para a cadeia quem assim o fizer, mantendo-se as intervenções dentro dos limites permitidos pela legalidade, claro está. É bom ter Liberdade para hoje dizer que me orgulho de fazer parte de um partido que, tendo assumido a governação nos Açores em 1996, fez com que o arquipélago se desenvolvesse, desde então, de forma notável. Tenho memória clara de como tudo era antes e tenho conhecimento profundo de como tudo é agora. Há, infelizmente, quem tenha a memória fraca…alguns poucos saudosistas, já que a esmagadora maioria dos Açorianos têm reiterado consecutivamente a confiança no Partido Socialista e nas capacidades de quem nos tem vindo a governar desde 96, com vitórias consecutivas e resultados bastante expressivos nas urnas. Isto são factos. Não são fantasias. Há quem não goste. Ora paciência. É bom ter Liberdade para hoje dizer que, quando o atual Governo Regional tomou posse, o país atravessava uma grave crise que ameaçava hipotecar o futuro dos Açorianos, mas que a ela sobrevivemos. E bem. Porque esse Governo foi (e é) forte e atirou-se à luta, sem dar tréguas. Poderei mais tarde dizer aos meus netos, se os tiver, que estive lá e vi. Qual São Tomé (“santidades” à parte). Vi o quanto se trabalhou e se trabalha, o quanto se batalhou, o quanto se lutou para que os Açorianos tivessem uma vida condigna, face a tanta adversidade corroborada por um Governo da República que nada nos deu, somente tirou. Vi e vejo o quanto se labuta para manter, salvaguardar e reforçar a nossa Autonomia, tendo mesmo sentido em primeira mão o quanto, lá fora, ela é amiúde maltratada e desrespeitada. Agradeço a Liberdade que tenho para trabalhar pelos Açores. Tal como agradeço a de quem critica o trabalho que faço, o trabalho que o Governo Regional faz, os bons e os possíveis maus resultados. Acima de tudo agradeço a possibilidade de ter Esperança de que muito ainda se vai conseguir fazer, pela defesa do melhor para os meus conterrâneos. Por esse motivo continuarei na Assembleia Legislativa a defendê-los, no limite das minhas possibilidades. E continuarei a defender a nossa Autonomia, contra a átonomia de alguns, que como que desejam que os tempos em que os Açorianos viveram no mais completo atraso voltassem, a resignação a um nível de vida menor imperasse e Lisboa aqui mantivesse o jugo de outrora. Há trabalho que carece de melhoria? Há. Há erros? Há. No entanto há trabalho feito e bem feito. Mas ainda há quem seja incapaz de o admitir, por orgulho ou mera embirração. Vá-se lá saber.