Opinião

Tirar as vendas dos olhos

Os idosos e as crianças e jovens dos Açores vão ver, no próximo ano, os complementos regionais reforçados em dois e dez por cento, respetivamente. É isso mesmo que consta das propostas de Plano e Orçamento para 2016 que o Governo dos Açores vai apresentar à Assembleia Legislativa. É, no fundo, a materialização de uma via que temos seguido na Região e que permitiu, por exemplo, que o Complemento Regional de Pensão tivesse aumentado todos os anos desde 2012, o que representa um reforço de cerca de dez por cento nesta Legislatura. Esta é uma opção puramente política do Governo dos Açores do Partido Socialista que, mesmo nos anos de chumbo que nos impuseram de Lisboa, optou sempre por reforçar as medidas sociais para apoiar os setores mais fragilizados da nossa sociedade. Refiro este exemplo concreto porque, talvez nunca como hoje, foi tão evidente a necessidade de uma opção ideológica entre uma Direita neoliberal que não tem pejo em fazer cair muitos para que alguns se safem, e uma Esquerda moderna, que tem no seu código genético a solidariedade e o humanismo. É, pois, essa opção ideológica que está bem evidente hoje no país e que, por mais que custe a alguns, terá de ser vista com a absoluta normalidade que a Democracia proporciona e recomenda. Por toda o Mundo, os mais variados países estão, ideologicamente, divididos entre os blocos de Esquerda e Direita, cabendo aos eleitores, como deve ser, escolherem, a cada momento, a quem deve conferir a sua confiança na governação. Mesmo nos Estados Unidos, Democratas e Republicanos apresentam ao eleitorado propostas e políticas de Esquerda e de Direita, aliás, à semelhança do que se passa também no Reino Unido, onde o espetro político está claramente dividido em dois blocos. É, por isso, um tanto estranho que, 40 anos passados de Democracia, ainda estejamos, em Portugal, a diabolizar a Esquerda, muitas vezes assente em argumentos que o tempo se encarregou de esbater ou, em alguns casos, mesmo de desmentir. Pela primeira vez em cerca de quatro décadas, parece que Portugal pode contar com todos os partidos representados na Assembleia da República para um projeto político que não se restrinja, apenas e só, ao protesto e à denúncia. Esta nova realidade política nacional - sendo confirmada! - não deve ser, sob qualquer prisma, motivo de receios ou de mitos, sendo antes motivo de demonstração da evolução política de partidos que, pelo que é público, parecem querer evoluir nas suas posições para novas responsabilidades. Os que teimam em não querer perceber que a política nacional mudou, devem perguntar-se se a Dinamarca é, ou não, uma Democracia, se, nos Estados Unidos, se cumpre, ou não, a Constituição com governos Democratas, e se, mesmo nos Açores, não se viveu melhor nas últimas décadas com executivos socialistas. Se, serenamente, fizerem esta análise, verão que, no fundo, Portugal está a exercer a Democracia.