Opinião

Gémeos falsos

Nos discursos políticos diz-se que somos todos iguais mas,tal como no conhecido livro de Orwell, há sempre uns mais iguais do que outros. Passos já está em plena campanha e foi à Madeira dizer isso mesmo. Pedro gosta das suas duas regiões autónomas. Mas não gosta por igual. Sobre um mesmo assunto, as passagens aéreas, tem dois pesos e duas medidas.Um açoriano para ir ao continente paga um máximo de 134€ e um madeirense de 86€. O Primeiro-ministro apressou-se a explicar que é devido à distância. Não tem nada a ver com o governo da Madeira ser da sua cor partidária, como toda a gente já tinha percebido. Mas,com o facto de osAçores ficarem mais distantes do território continental, vai daí, quem está mais perto paga menos, quem está mais longe paga mais. Pergunto-me se isso não deveria ser ao contrário, ou seja, se a ajuda não deveria ser maior para quem já está mais afastado? Ou se, a discriminar, não deveria pender para o arquipélago mais disperso? Ou então,simplesmente, porque não tratar ambas por igual. Seria mais justo e mais bem compreendido por todos. Mas não foi isso que Passos quis fazer. Abriu a caça aos divergentes, como se usa muito em política rasteira. Apesar de ter, e cito, "excelentes relações com o Governo dos Açores". Talvez fosse bom que os açorianos na hora de votar se lembrassem do popular dito "amor com amor se paga" e retribuíssem a atençãozinha do nosso Primeiro. Que morre de amores por estas nove pérolas atlânticas, mas se encantou ainda mais pela poncha de maracujá que lhe foi dada a beber, a ponto de aceitar que os 43 milhões do fundo de coesão sirvam para amortizar a dívida. O presidente do Governo dos Açores insurgiu-se com razão, lá diz o povo que "quem não se sente não é filho de boa gente", aguardemos com esperança a resposta. E sentados. E demos graças por sermos só duas regiões autónomas, quando não, ainda nos habilitávamos a ser,entre todas, a terceira.