Opinião

Tenham dó!

Por mais esforço que faça, nunca é o suficiente para deixar de me referir às declarações de Aníbal Cavaco Silva relativamente ao mísero rendimento que aufere ao fim do mês. Já em tempos idos, os portugueses ficaram para Deus os levar ao saber que a primeira dama de Portugal, vivia às custas do marido. A infeliz senhora, depois de uma longa carreira no ensino superior, tem uma reforma de miséria que ascende a 800€,apenas...Que injusto é este país que paga uma tal ninharia a uma profissional do saber que devotou uma vida ao serviço da educação. Por curiosidade, perguntei a alguns professores reformados que exerceram funções no primeiro ciclo do ensino básico (anteriormente designados por professores do ensino primário) se poderiam informar o montante das suas reformas. De todos os consultados, nenhum referiu receber 800€. A maioria declarou que ao fim do mês levava para casa qualquer coisa semelhante a dois mil e tal euros! Que injustiça! A primeira dama de Portugal está certamente a ser discriminada! Ou será que teve uma passagem meteórica pela cátedra e daí apenas ter direito a receber oito centenas de euros? Quanto ao Professor Cavaco Silva, até ficámos com vontade de chorar! O nosso Presidente prescindiu do vencimento atribuído ao mais alto magistrado da nação e agora vê-se a passar por enormes dificuldades mercê das míseras reformas que aufere. Somadas, não devem ultrapassar 10.000 ! Uma miséria... Há alguém que consiga explicar-me como é possível a um casal de idosos - por mais poupadinho que seja - sobreviver com um orçamento familiar tão reduzido? O que vale ao casal Silva foi a oportunidade de por, mensalmente de lado, ao longo dos anos, uns troquinhos que agora são a tábua de salvação perante uma crise que atingiu a maioria dos portugueses, em geral e a família Silva em particular. Tenha dó, senhor Presidente! Numa altura em que muitas famílias são atingidas pelo desemprego, pela subida de impostos, pela redução dos rendimentos é, no mínimo, imoral a afirmação do Presidente da Republica dando conta que terá muitas dificuldades em cobrir as suas despesas pessoais com as míseras reformas "auferidas"! Realmente ficamos com a sensação de que o nosso Presidente, com o passar dos anos, deve estar a perder a noção da realidade e move-se num mundo imaginário em que ele seria o monarca e todos nós, cidadãos, estaríamos remetidos à triste condição de servos da gleba. Como afirmou à televisão, Carlos Abreu Amorim "ele, quando está calado, normalmente, está bem". Na realidade, por vezes, seria preferível o não pronunciamento à emissão de declarações que comprometem a imagem que os portugueses deveriam ter da primeira figura do Estado. Tais declarações, tiveram o condão de irritar e indignar todos os portugueses, de quase todos os quadrantes políticos e sociais. Apenas alguns, mais comprometidos com a linha de Cavaco Silva e as sorridentes vacas da Graciosa, conseguiram manter a serenidade de quem comunga do dito ou ficaram enternecidos como as bichinhas, perante o discurso piedoso de quem passa por enormes dificuldades e tem de substituir o brioche por um mísero pão de segunda categoria. Por cá, a família natural de Cavaco, ou seja o PSD de Berta Cabral, à falta de melhor e na ausência de uma declaração formal da sua ainda líder, condenando com veemência as afirmações daquele que liderou o partido laranja, foi primeiro-ministro e ainda tem uma enorme influencia no laranjal das ilhas, preferiu mandar executar um ataque ao Governo dos Açores por ter mandado verificar uma situação de alegada pobreza extrema, vinda a público na comunicação social. Gostaria de perguntar aos senhores do PSD, o que acham que deve ser feito quando surge a denúncia de uma situação de fome ou de pobreza. Nao será a melhor opção mandar verificar e atuar de imediato? Por acaso, os senhores que estiveram duas décadas no poder e que gerem câmaras e juntas de freguesia, nao sabem que nem tudo que vem a lume corresponde à verdade? Na minha já longa experiência de contacto directo com a realidade social, já tive a oportunidade de verificar casos de oportunismo, de menos verdade, de teatralização e inclusive do agir em conformidade com orientações menos escrupulosas com vista a aproveitamentos das mais diversas origens. Felizmente, o Governo dos Açores, através da Secretaria Regional do Trabalho e da Solidariedade Social, do Instituto para o Desenvolvimento Social dos Açores e das inúmeras instituições particulares de solidariedade social que apoia, dá resposta imediata a todas as situações de emergência que possam surgir. Longe vão os tempos em que se passavam cheques ao portador com base na cara do freguês, do cartão partidário, no critério pessoal ou no humor das então designadas "meninas da assistência" ! Hoje, os apoios são substancialmente superiores, mas, paralelamente, mais exigentes na forma de atribuição, no acompanhamento e na verificação da real situação de cada família. Com as atuais políticas sociais e com o empenho de todos nós, as famílias açorianas mais desfavorecidas, são justamente amparadas e orientadas rumo a uma vida melhor!