Opinião

O exemplo do Japão

O mundo globalizado desfez as suas eternas fronteiras e tornou-se uma aldeia pequenina. Ao pé da porta. Com a internet as imagens em tempo real fazem da vida dos outros a nossa própria. Por isso é assustador vermos em tempo real o que acontece do outro lado do mundo. O terramoto que devastou o Japão levanta o sistema de alarme em quem, como nós, vive também em ilhas sísmicas. E explica duas coisas muito simples. A facilidade com que uma economia desenvolvida se transforma numa economia frágil. E os segundos que separam um estado do outro. A transitoriedade a que os países estão sujeitos deve ser motivo de reflexão. E a tentativa pouco feliz de minimizar os acontecimentos dos outros comparando-os com os nossos também. Não é possível comparar esta catástrofe com nenhuma outra. Nem com o terramoto de Lisboa, nem com o do Haiti, nem com os efeitos da peste. Em primeiro lugar porque as circunstâncias eram outras, a capacidade de reacção também, e o grau de devastação que impõem só se deve comparar em situações semelhantes e não à distância de séculos em alguns casos. O que há a registar desta tragédia é a facilidade com que se passa duma condição a outra e a fragilidade dos países, mesmo que desenvolvidos. O Japão investiu muito em energia nuclear que se revela agora uma ameaça interna violenta. Na sequência disso a Alemanha apressou-se a desmantelar as centrais nucleares mais antigas. Certo é que assistir às imagens de destruição que nos chegam diariamente a casa permite que tenhamos uma noção mais rigorosa da nossa dimensão e dos efeitos que um evento semelhante teria se nos atingisse. Permite um enfoque mais justo nesta realidade e assegura que nos salvaguardemos das comparações. Afinal as tragédias não têm uma dimensão mensurável. Muito menos quando as distinguimos pelo facto de termos sido por elas afectados.